22.9.11

Vintage x Retrô (Parte V)


MERCADO DE PULGAS, VINTAGE STORES E BRECHÓ:

A criação do Mercado de Pulgas

Entre 1880 e 1900 em Paris, na França, começa a surgir em Saint Ouen (subúrbio ao norte da capital francesa) um novo tipo de mercado entre os comerciantes locais. O “marché aux puces”, Mercado de Pulgas - nome em homenagem à quantidade de pulgas que habitavam o local e que geralmente eram encontradas em peças de vestuário - transformou-se em local onde era (e ainda é) possível encontrar objetos, móveis e roupas antigas e usadas de qualquer época com preços muito baixos.

Instalados na entrada da cidade, próximo aos fortes, os Chiffonniers ou mais poeticamente conhecidos como “pêcheurs de lune” (pescadores da lua) percorriam Paris a noite à procura de velhos objetos jogados no lixo, os quais revendiam em seguida nos mercados locais. Por serem frequentemente confundidos com os habitantes de Cour des Miracles (um local freqüentado por mendigos e ladrões) os Chiffonniers foram rejeitados em Paris pelos novos governantes no fim do século XIX. Eles formaram então pequenos grupos e se instalaram perto da entrada de Montreuil, de Vanves, Kremlin Bicêtre e Clignancourt.
Gradualmente, certos Chiffonniers mais audaciosos tornavam-se artesãos por conta própria. Logo, estes comerciantes decidiram se associar e não demorou para que os parisienses descobrissem as barracas com objetos variados dispostos ao chão do outro lado da barreira de Clignancourt. Aos poucos, o número de curiosos e de mercadores foi aumentando e logo a feira tornou-se popular entre os grandes colecionadores de antiguidades.

O Mercado de Pulgas de Saint-Ouen celebrou em 1985 o seu centenário, e hoje abrange uma área de 11 km de ruas e becos, sendo o maior mercado de antiguidades da Europa. Todos os fins de semana, entre 120.000 e 150.000 visitantes de todo o mundo visitam a feira na esperança de encontrar algo especial entre os 1.400 vendedores de antiguidades que ali trabalham. O mercado tornou-se um dos destaques de Paris para os moradores e turistas que procuram por algum objeto ou pelo simples prazer de olhar. Em 2001, todos os mercados de Saint-Ouen foram declarados como patrimônio arquitetônico local protegido (Zone de Protection du Patrimoine Architectural Urbain et Paysager - ZPPAUP). Nenhuma parte do local pode ser destruída ou transformada sem a consulta de um arquiteto oficial.

Formando um labirinto de lojas, cada uma delas tem sua especialidade atualmente. O Biron é um dos mais antigos e sofisticados, especializado em mobílias clássicas de épocas; Dauphine, com uma mercadoria clássica no térreo e mais contemporânea nos andares; Rosiers, simpático e discreto com o primeiro andar reservado ao design europeu e americano; Paul Bert é o mercado mais tendência de todos com 7 alas e 250 estandes; Malik é o das roupas e o Vernaison com muitas antiguidades de todos os tipos. O mercado de pulgas de Saint-Ouen é apenas um dos quatro existentes em Paris, porém por ter sido criado primeiro, é o principal e mais famoso do mundo. 

Como se fosse um aglomerado de brechós, o Mercado de Pulgas é o local onde se comercializam artigos antigos, usados ou de fabricação artesanal, geralmente feito pelo próprio vendedor. A maioria das lojas não são especializadas, permitindo ao consumidor, encontrar vários produtos numa mesma loja. Bicicletas, cerâmicas, roupas, discos e pinturas podem ser vistas no mesmo lugar.
Na época em que o local ficou famoso, roupas, calçados, ferramentas antigas, mobílias, bronze, luminárias, bijuterias e jóias eram vendidos a preços baixos, movimentando principalmente os domingos, quando era tradição o passeio fora das muralhas. Principalmente durante os anos 60 e 70 era possível comprar mobílias em bom estado por preços muito baixos. Em 1991, por exemplo, um comprador encontrou por menos de 200 euros uma mesa que pertenceu a Van Gogh, que depois de avaliada, foi estimada em 2 milhões de euros. Porém, parte do objetivo inicial, que era vender roupas mais baratas para pessoas de baixa renda mudou. 
O que se vê nas lojas do Mercado de Pulgas são artigos que valorizam mais o estético do que a necessidade de vestir-se, e apesar dos preços estarem abaixo do que estariam numa loja de grife, por exemplo, o custo em geral ainda é elevado em comparação aos outros produtos sem poder de marca, porém de primeira linha.
O grande movimento se dá porque não se tratam de simples objetos velhos, mas porque estamos falando de Gucci, Prada, Vuitton, Chanel, Hermés e várias outras marcas, normalmente em ótimo estado, vendidos por menos da metade do preço. Uma festa para colecionadores, profissionais da moda e para o próprio usuário, diz Patrícia Lima (Revista Catarina).
O Mercado de Pulgas é, portanto, um pouco diferente dos brechós comuns devido ao status que ocupa e pelo público que atrai, com maior poder aquisitivo e necessidades estéticas, e que normalmente se dirige ao mercado com um objetivo de compra, uma peça específica, seja ela qual for.
O mercado de pulgas de Saint-Ouen em Paris, apesar de ser o primeiro, o maior e mais importante, não é o único. Existem, ao redor do mundo, muitos mercados similares. Um deles é o El Rastro, de Madri, onde todos os domingos uma multidão visita o mercado. O mesmo acontece em San Telmo, em Buenos Aires. Em Londres e Nova York existem famosos Flea Markets, com antiguidades e produtos raros. No Brasil, o local que mais se aproxima de um mercado de pulgas é a Feira de Antiguidades na Praça Benedito Calixto em São Paulo (fotos abaixo).
 CONTINUA...

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