Vintage x Retrô (Parte III)

ESTILO RETRÔ

Uma roupa produzida antes dos anos 20 é definida, tecnicamente, como Antiga. As peças feitas entre 1920 e 1980 são definidas como Vintage e as mais recentes são chamadas de Modernas ou Contemporâneas. No entanto, as roupas produzidas na era moderna com cara de períodos anteriores são chamadas de Retrô.

Retrô – prefixo que significa “para trás” - implica em um movimento em direção ao passado, relativo a últimos tempos. O termo é utilizado para descrever, classificar ou identificar culturalmente tendências antigas e também pode ser aplicado às formas obsoletas da tecnologia, como por exemplo, máquinas de escrever, caixas registradoras, projetores, câmeras fotográficas e outros. Pode descrever objetos e atitudes do passado recente, sendo tudo aquilo que não nos parece ser moderno e atual. 

Vitrola Vintage (esquerda) Original da década em que foi fabricada), e a Retrô (direita): Releitura atual de uma Vitrola de outra década.

Com o passar dos anos, o mundo da moda começou a fazer releituras do passado no lançamento das novas coleções - começou a surgir a moda Retrô. Essa tendência funcionou como uma permissão do mundo fashion à utilização de coisas antigas, pois a moda começava a admitir a reciclagem. Desta forma, numa relação contraditória, tornou-se sinal de modernidade vestir-se como no passado. 

Luella Spring 2010

A nossa cultura de mídia de massa global alimenta-nos com tanta informação que um ecletismo cultural maciço é a única resposta possível. O retrô pode ser visto como conseqüência, bem como compensação para a modernização. A apropriação da história e do familiar pode gerar um sentimento de estabilidade no que, de outro modo, seriam condições instáveis.

PASSADO E PRESENTE - ESTILOS RETRÔ NA CULTURA JOVEM

“As culturas jovens retrô raramente reproduzem com exatidão o visual que foi, em outros tempos, o de inúmeras pessoas” diz Heike Jenb no livro: Fashion Theory - O vestir na história: Estilos Retrô e a construção da autenticidade na cultura jovem. Em vez disso, podem combinar elementos do passado com os da cultura contemporânea, tendendo, talvez de modo inconsciente, a focalizar modas inseridas em seu espaço visual. Como resultado, os visuais predominantes na cena da década de 60, por exemplo, são os estilos “estereotípicos” comumente associados à década em questão, os quais são influenciados por imagens da mídia, de bandas de rock como os Beatles, modelos como Twiggy e atores e atrizes do cinema.

Contudo, o que os membros da cena da década de 1960 identificam como autêntico não é só o que já foi filtrado pelas imagens, mas também o que corresponde a suas demandas contemporâneas, determinando por seu contexto cultural atual e por seus corpos.

A BUSCA PELA AUTENTICIDADE

O vestir na história com itens retrô, seja com materiais sobreviventes ou com renovações, é um meio popular de articular autenticidade e diferença. Todas as formas de moda se desenvolvem em contextos específicos e sua interpretação deve reconhecer mudanças e flutuações de sentido. Existe uma tendência em julgar grupos retrôs como inautênticos, uma vez que estes não parecem inovadores ou progressistas e limitam-se a copiar os estilos das “culturas jovens” autênticas do passado.

"Hoje em dia, estilos culturais jovens tem-se tornado “pacotes” que podem ser escolhidos, selecionados, podendo ser devidamente apropriados e desempenhados, deslocados de um contexto e sentido cultural “original”. Heike Jenb 

Os estilos retrôs e cópias de modas antigas têm sido um componente da subcultura jovem desde o início do período pós guerra. Por essa razão, as culturas jovens atuais descritas como autenticas e inovadoras podem ser julgadas como inautênticas, mas esse pensamento que divide opiniões não leva a lugar algum. Para que um jovem desempenhe o estilo adotado de maneira convincente é preciso ter o capital (sub) cultural apropriado, como este que eles demonstram na maneira de vestir, no conhecimento musical, do estilo certo de dançar e outros mais. Os estilos de vestir específicos da cena não podem simplesmente serem tomados e mesclados como tantas vezes se insinua fazer, mesmo se estilos jovens estiverem globalmente disponíveis na mídia, desempenhar um estilo de modo convincente é parte de um processo mais complexo de envolvimento e engajamento, crucial para a formação de uma identidade ativa.

Vestido Vintage - original dos anos 50.

A autenticidade é percebida como uma ideologia que proporciona às pessoas jovens em culturas jovens um modo de alcançar a subjetividade social e, nessa medida, a identidade por meio de experiência subcultural. Sendo assim, a autenticidade não existe por si própria, mas precisa ser elaborada. Os itens originais são legitimados mediante a história, dessa forma podem ser percebidos como duradouros, representando honestidade ou credibilidade.

Heike Jenb diz que “a "aura" ou "encanto" de heranças históricas residem em seu status como objetos únicos e originais”. Apropriada como ferramenta de autodesempenho (auto-autenticidade), a suposta autenticidade do objeto se funde ao sujeito, fazendo com que a originalidade e a qualidade de único da roupa sejam transmitidas literalmente ao portador.

Pra fechar essa dúvida então, lembrem-se: 

Vintage: Peças que foram feitas em outras décadas e que duraram até hoje (um vestido comprado no brechó, original dos anos 50, por exemplo).

Retrô: Releituras atuais de peças que foram criadas em outras décadas (um vestido rodado de poá comprado na Pernambucanas, por exemplo).

Vestido Vintage - Original da década de 1950

Vestido Poá - Coleção Verão 2012 Pernambucanas

 CONTINUA...

No próximo post: O Velho, O Usado e O Antigo...

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