my little ice cream: Vintage x Retrô (Parte II)

O VINTAGE

De origem inglesa, a palavra vintage designa, na enologia - ciência que estuda todos os aspectos relativos ao vinho - o ano de uma colheita de uvas (vint relativo à safra de uvas e age de idade). Na moda, é usada para definir roupas antigas, que representam claramente o estilo de sua época, contanto que esteja em seu estado original.

Originado na França e Inglaterra, o vintage se propagou pelos Estados Unidos e sua presença já é bastante notada no Brasil. Esse fenômeno pode ter várias explicações, uma delas é a que as revistas de moda como ELLE e VOGUE defendem: De que tudo já foi inventado, tudo já foi usado e o que está acontecendo não é um exercício de renovação de moda e sim um total esgotamento de idéias. Daí surge o interesse cada vez maior em modas de épocas passadas.

Outra explicação, citada por João Braga no livro Tudo velho de novo é a de que em uma época de muitas tendências impostas, há quem fuja desta expressão (tendência) ressaltando que moda é comportamento, valores, princípios, estilo de vida e atitude e que a principal atração pelo vintage é o seu caráter único.

“As pessoas buscam cada vez mais a individualidade, pois vivemos num período sem definição. Por isso também o resgate do antigo, de uma época mais definida” (Braga, 2005).

Pode até parecer um contra-senso, mas apesar de moda significar mudança, ruptura, ela está sempre voltando ao passado. Os mais renomados estilistas muitas vezes voltam aos tempos mais longínquos para buscar inspiração e reinventar a moda.

Existem coleções que revisitaram certas décadas, se inspiraram em certas peças vintage, mas se foi produzido agora é uma releitura - Retrô - não é vintage.

Coleção Primavera/Verão 2011 Lena Hoschek, Berlin Fashion Week.

VINTAGE COMO IDENTIDADE

A moda diz respeito a uma questão essencial para o mundo contemporâneo, a de identidade. Portanto, interpretar esse fenômeno como um sinal suplementar do materialismo ocidental pode torná-lo incompreensível, diz Guillaume Erner (Livro: Vítimas da moda? Como criamos, Por que a Seguimos, 2005).

O período atual em nossa sociedade pode ser reconhecido como uma hipermodernidade, na qual a aceleração de todos os processos é exacerbada, e tudo é elevado à potência do mais, sendo apresentada aos sujeitos, segundo o autor, o hiperconsumo, a hipermídia, entre outros “hipers”. As tendências de moda são exemplos de como se consome rápido e também de como se descarta tudo aquilo que é lançado. Porém, as tendências não se aplicam somente a objetos, um exemplo disso são os nomes.

Parte da atração pelo vintage vem desse cansaço do consumo e descarte rápido. "O excesso de marcas, de novidades e de publicidades logicamente favoreceu estratégias de retruque. Assim, parte da clientela abandonou as marcas tradicionais, preferindo os brechós ou os mercados de pulgas. Desde então, as regras do jogo mudaram: não consistem mais em caçar a última novidade, mas o contrário, em se vestir com velhos modelos de calça jeans ou tênis" (Guillaume Erner).